Anna Akhmátova
(Tradução de Lauro Machado Coelho)
Vinte e um. Noite. Segunda-feira.
A silhueta da cidade na neblina.
Algum desocupado inventou
essa história de que há amor no mundo.
E por preguiça ou por tédio,
todos acreditaram nele e assim viveram:
esperando encontros, temendo rupturas
e cantando canções de amor.
Mas a outros será revelado o segredo
e sobre estes recairá o silêncio...
Eu tropecei nele casualmente e, desde então,
sinto-me como se estivesse doente.
Livre
(Mônica Magalhães Cavalcante)
Amo o beija-flor
Que a flor não deixa
E no silêncio beija
O solitário vôo.
Da água doce que sobeja,
Ele bica a bolha
E faz a escolha,
O beija-flor que olha
E vai embora.
Amar é desprender o beijo
E, mesmo assim, saber-se flor
De um beija-flor que torna
Se tudo o mais se for.
(Mônica Magalhães Cavalcante)
Um poema se resolve em versos
e em cadências;
eu me resolvo em poemas
e em suplências.
Mensageira de todas as vozes,
controlo o tiroteio
das culpas e das cobranças;
minto de mim e em mim deposito
- corpórea necessidade
de ser o avesso na rima e no verso.
Um comentário:
Mônica Magalhães Cavalcante, mistura o metalinguístico com o expressivo. E a confissão se faz completa. Faz-se espasmódica - espasmo da alama e da arte.
Postar um comentário