quarta-feira, 10 de março de 2010

     

        Mãe Miriam

  (Vicência Jaguaribe)

Mãe, da vida saíste sutil
Como nela entraste.
Sem estardalhaço
Como por ela passaste.
Sem grandes e vistosas
Atitudes que te dessem
Um lugar no pavilhão
Dos mártires ou dos heróis.
O teu fazer foi miúdo
Como os grãos de areia
E sutil como a folha que cai
Para dar lugar a outra chegante.

(Ninguém a ti atribuiu
O vestido que velou
A nudez da mulher
O lençol que agasalhou
O velho paralítico
As moedas que compraram
O remédio de quem morria
E o leite de quem nascia.)

Por esse teu deslizar pela vida,
Mãe, eu te saúdo com o respeito
Com que o anjo Gabriel, um dia,
Saudou uma outra Mãe,
Também Miriam,
Em uma outra época
Em um outro lugar.

Por esse teu resvalar por nossas vidas,
Mãe, eu me curvo à tua lembrança,
Como um dia,
Num tempo muito distante,
Isabel curvou-se a uma outra
Mãe, a uma outra Miriam,
Mãe Miriam.