Pai, afasta de mim este cálice
(Vicência Jaguaribe)
“Meu pai, se é possível,
Afasta de mim este cálice!”
Sim, muitas vezes vacilamos
E a dor suplanta a coragem.
E por mais que façamos
Arrasta-nos sempre a voragem.
O desespero nos prostra:
“Aba! Afasta de mim este cálice”.
Mas se a fé se torna mais forte
Não recua e enfrenta a morte.
“Todavia não se faça o que eu quero,
Mas sim o que tu queres.”
E vem aos poucos o consolo
— Que passa longe da acomodação.
E construímos, tijolo por tijolo,
O caminho da redenção.
“Pai, nas tuas mãos,
Entrego o meu espírito.”
E confiamos com a candura da criança
Que chegará enfim o grande dia
Em que recuperaremos a esperança
E faremos nossa travessia.
“Por que buscais entre os mortos
Aquele que está vivo?
Não está aqui, mas ressuscitou.”
Pois a travessia é a nossa ressurreição.
Então a vida suplantará a morte
E estaremos mais uma vez fortes
Para beber do cálice da salvação.